Amazônia: a homilia dos padres indígenas que chega aos corações
- Paróquia São Tiago Maior

- 21 de dez. de 2018
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Uma entrevista especial com o bispo da diocese mais “indígena” do Brasil, o gaúcho Dom Edson Tasquetto Damian, revela a importância de se valorizar a cultura indígena dentro da Igreja, principalmente através do idioma nativo: “padres indígenas pregam a homilia na língua do povo e entra muito mais no coração dos fiéis”.
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
Dom Edson Tasquetto Damian é bispo de São Gabriel da Cachoeira há cerca de 10 anos, a diocese que fica no interior do estado do Amazonas e é considerada a mais “indígena” do Brasil. Além de bispo amazônico, Dom Edson é também Padre Sinodal, já que vai participar do Sínodo Especial para a Amazônia em outubro de 2019.
Em entrevista à Cristiane Murray, o bispo revelou o tipo de Igreja que sonha para a Amazônia: “uma Igreja como nos pede o Papa Francisco: com rosto amazônico.”
São Gabriel da Cachoeira: 95% indígena
Para que a Igreja tenha esse rosto, explica Dom Edson, o encontro de outubro será fundamental, como também é importante a preparação dele que está sendo feita através da participação de dioceses e comunidades, inclusive indígenas, que se reúnem para refletir e discutir a realidade da região:
“Esse documento preparatório, ele é tão bem feito, que eu já distribuí para as comunidades e já vi pessoas muito simples, com pouca cultura, entendendo que é um documento que está confiando nos leigos e pedindo propostas inovadoras, mas que venham da base. E nós, indígenas, estamos muito bem valorizados nesse documento. Na minha igreja, onde 95% da população é indígena, esse documento chega às pessoas simples que se sentem valorizadas, porque são convidadas a dizer o que pensam da Igreja, dos novos ministérios, de uma participação mais efetiva da mulher na busca de uma Igreja que sabe ouvir o povo e está mais próxima deles. Elas dizem que têm vários padres indígenas, que precisam buscar mais vocações e incentivar os jovens, porque os padres indígenas fazem uma diferença muito grande. Isso porque eles pregam a homilia na língua do povo e entra muito mais no coração dos fiéis.”
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O bispo dá um exemplo, explicando que foi dar um treinamento sobre líderes, numa das paróquias mais distantes da diocese, e com a ajuda de uma pessoa nativa que fala a língua do povo: "o que eu constatei: aquilo que eu demoro meia hora pra explicar em português, ela em 5 minutos explica e eles captam logo a mensagem".
A Boa Nova das culturas indígenas
Em São Gabriel da Cachoeira, segundo Dom Edson, há três padres indígenas que falam os idiomas amazônicos, como o tucano, o banigua e o inhangatu. Algumas missas, mas principalmente as músicas das cerimônias, já recebem a interpretação na língua local.
Com a abertura do Papa Francisco, que motiva os povos indígenas a serem protagonistas, Dom Edson afirma que querem levar para o Sínodo Amazônico aquilo que vem da base e das comunidades. Na comissão pré-sinodal, por exemplo, o único indígena que participa dos trabalhos é um índio que se formou padre, que não renunciou a cultura, nem o jeito de viver, língua e valores. Toda a formação que recebeu foi sem que ele precisasse renunciar a sua cultura:
“ A gente tem esse princípio que nos orienta há tempos: a Boa Nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova de Jesus. Há tantos valores humanos nesses povos indígenas, que o Evangelho vem completar e iluminar. ”





















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